FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HOSPEDAGEM E ALIMENTAÇÃO

Setor de turismo estima novas demissões com fim de medidas do governo na pandemia da Covid-19

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Por Guilherme Canedo

A crise desencadeada pelo novo coronavírus modificou a dinâmica da nossa sociedade. Todos foram afetados, seja direta ou indiretamente.

Neste cenário, o setor de turismo foi um dos mais atingidos, especialmente em razão das medidas de restrição à circulação e aglomeração de pessoas para evitar a propagação do vírus. Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar do índice de atividades turísticas ter crescido 7,6% em novembro, frente a outubro do ano passado, o setor ainda precisa avançar 42,8% para retornar ao patamar pré-pandemia, já que o isolamento social atingiu mais intensamente boa parte das atividades, principalmente, transporte aéreo de passageiros, restaurantes e hotéis.

O gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, enfatizou ser “extremamente improvável” que o setor de serviços como um todo encerre o ano de 2020 no campo positivo. Segundo ele, para que possa ter crescimento nulo, ou seja, de 0%, o volume de serviços prestados no país em dezembro teria que registrar um avanço entre 81,8% e 82,8% na comparação com novembro.

“Atividades como restaurantes, hotéis, serviços prestados à família de uma maneira geral e transporte de passageiros – seja o aéreo, o rodoviário e ou o metroviário – até mostraram melhoras, mas a necessidade de isolamento social ainda não permitiu o setor voltar ao patamar pré-pandemia”, explica.

De acordo com levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de março a dezembro de 2020, as perdas mensais ocorridas no turismo já somam R$ 261,3 bilhões – o equivalente a mais de quatro meses de faturamento. Atualmente, o turismo brasileiro opera com 42% da sua capacidade mensal de geração de receitas. Os estados de São Paulo (R$ 94,12 bilhões) e do Rio de Janeiro (R$ 39,77 bilhões), principais focos da Covid-19 no Brasil, concentram mais da metade (51,2%) do prejuízo nacional.

“Estas defasagens do volume de receitas, em relação ao início do ano passado, reforçam a percepção de que o turismo é, de longe, o setor mais afetado pela queda do nível de atividade ao longo do surto da Covid-19. A expectativa é que o setor não consiga recuperar as perdas antes do fim de 2022, devendo registrar queda de 36,8% em 2020”, ressalta Fabio Bentes, economista da CNC.

Apesar do ânimo em relação ao início da imunização em diversos países, as indefinições do governo brasileiro quanto à aprovação das vacinas e as descobertas de novas variantes da Covid-19 colocam mais incertezas no setor. Redes hoteleiras e operadoras de turismo, que no ano passado demitiram mais de 20% de seus quadros, estimam novos desligamentos em massa, caso a União não reveja o encerramento das medidas para conter o impacto da pandemia. Com o fim da vigência do estado de calamidade pública em dezembro de 2020, o auxílio às instituições privadas foram extintos. Com isso, entidades do setor pressionam o governo federal para definir medidas que aliviem o turismo, como aumento do prazo para reembolso de viagens canceladas (Lei nº 14.046) e extensão das regras para redução de jornada e salários e suspensão temporária de contratos de trabalho.

Na avaliação do presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Alexandre Sampaio, se o turismo não for ajudado a manter os empregos, as empresas dispensarão muito mais do que os cinco mil funcionários da Ford em São Paulo e outras fábricas fechadas Brasil afora. Sem a postergação dos Refis (programa de refinanciamento de dívidas), que voltaram a ser cobrados, e a dilatação do prazo de vencimento da Lei nº 14.046 não haverá recuperação ou retomada que salve grande parte dos negócios turísticos.

“Somos intensivos de mão de obra. Pequenos hotéis e pousadas, assim como parques temáticos ou mesmo resorts, são responsáveis, em algumas localidades paradisíacas do interior, a manter a economia municipal funcionando, pois geram postos de trabalho e trazem desenvolvimento por meio de compras de fornecedores regionais e pagamento de impostos para as municipalidades”, explica Alexandre Sampaio.

Segundo o presidente da FBHA, apesar do aumento da demanda por turismo nos últimos meses, a previsão do primeiro trimestre de 2021 varia muito por região, tipo de negócio, target de mercado e localidade, uma vez que nesses três meses não serão realizadas feiras, seminários, eventos, congressos e convenções, mesmo que ocorra a vacinação na população.

“O lazer será um dos grandes motes para o verão. O litoral, as serras com razoável infraestrutura e os destinos de natureza tendem a possuir grande demanda. Não devemos esquecer que localidades de agronegócio, mineração, petróleo ou industrialização expressa mantiveram a ocupação hoteleira, além de gerarem bons resultados na alimentação fora do lar. A situação pode começar a melhorar a partir do fim do primeiro semestre e primeiras etapas da vacinação”, pontua.

Já o presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), Orlando Souza, afirma que o primeiro trimestre deste ano é “desolador” e deve repetir o mesmo cenário do semestre passado. Para ele, a volta da ocupação não depende das autoridades, mas, sim, do processo acelerado de imunização. Sem isso, pontua, o business travel não terá chances de retomada tão cedo.

“Tudo depende da vacinação, visto que é um procedimento complexo, seja em quantidade de vacinas, na logística em um país continental, em efetividade de imunização. Caso algo muito positivo acontecer, somente a partir do segundo semestre deste ano, poderemos observar algum reflexo. A retomada será muito lenta e bem gradual, é melhor pensarmos em sobreviver este ano e mirar na retomada em 2022”, finaliza.

Fonte: Mercado1Minuto

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